Direito de Família na Mídia
Adoção homoafetiva em Juara
23/07/2009 Fonte: Diário de Cuiabá com AscomA Justiça de Mato Grosso, em uma decisão inédita, concedeu o direito a um casal homoafetivo de criar dois irmãos vítimas de maus-tratos. Desde o dia 7 de julho, os empresários Paulo Ciliato, de 35 anos, e Júlio Castilhos, de 40 anos, comemoram a obtenção da guarda definitiva dos novos filhos, os irmãos R.F.M, de 6 anos, e A.F.M, de 8 anos. A decisão é do juiz da Vara de Infância e Juventude da comarca de Juara (a 690 quilômetros), Douglas Romão.
Desde outubro do ano passado, os empresários já tinham a guarda provisória dos meninos e agora planejam mais uma adoção. A princípio, a intenção era adotar apenas o menor, mas uma declaração inesperada mudou os planos do casal. "Um dia fomos até a Casa de Passagem daqui (Juara), onde ficam crianças que sofrem maus-tratos, e o maior olhou para a gente e disse: _Sabia que já amo vocês? Então, no dia seguinte, falamos com o juiz e pedimos para adotá-lo também", relatou Castilhos.
Os dois menores tinham mais uma dupla de irmãos, que também foram adotados, mas por casais distintos. As crianças foram para a Casa de Passagem porque os pais eram alcoólatras e forçavam os filhos a ingerir bebidas alcoólicas. Um hábito do casal em promover "sopões" na periferia e visitar o abrigo para levar todas as crianças a passeios de lazer os levou a conhecer os meninos.
Agora, as crianças freqüentam escola particular, têm o próprio quarto e contam com a ajuda de uma empregada doméstica para se adaptar à nova rotina. A mudança na trajetória infantil também trouxe novidades para o casal sulista que mora em Juara, onde possui um restaurante.
"Eles acordam no meio da noite, sem sono, e às vezes fazem bastante bagunça, mas não tem preço ver o olho de uma criança brilhar quando ela diz que te ama e sabe que você pode mudar o futuro dela", conta.
Longe de mensurar a importância que a vitória judicial representa para a comunidade homoafetiva, o casal pensa agora apenas em educar os filhos e prepará-los para os preconceitos que enfrentarão. "Ensinamos que o amor que duas pessoas sentem não depende do sexo delas. Falamos que somos companheiros e as crianças entendem como tudo funciona em casa. Outro dia, perguntaram para o menor onde estava a mãe dele e ele respondeu: _Mãe para que? Para apanhar? Não preciso de mãe, tenho dois pais", relata o pai adotivo.
Na escola particular, os dois convivem com vários colegas também adotados. Castilhos sabe que, no decorrer da vida dos filhos, serão inevitáveis piadas e situações que possam deixá-los constrangidos, mas essa não parece ser sua preocupação. "Quando nos dispusemos a adotar os meninos, pensamos na situação de abandono em que se encontravam naquele momento e como poderíamos ajudá-los", diz.
Castilhos e Ciliato também estão com a guarda provisória de um menino de 15 anos, que também estava no abrigo. "Ele sabe qual é a situação, e tem o sonho de ter uma família. Está decidido que quer ser adotado", fala. O casal homoafetivo convive há 5 anos e há 3 mora em Juara. A adoção dos menores foi aprovada pelo Ministério Público Estadual e concedida pela Justiça após análises de psicólogos forenses e entrevistas com o casal e pessoas ligadas a eles. Seguiram-se ainda todos os procedimentos burocráticos padrões antes da adoção.